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AMOR SAGRADO, AMOR PROFANO

Paço Imperial - Rio de Janeiro
16 março - 21 maio
2017

A tradição presente na história da arte sempre foi um assunto de reflexão na produção do artista Gustavo Rezende. Os principais materiais que ele elege para desenvolver suas obras, materiais nobres como mármore e bronze, por exemplo, tão caros à história da arte, carregam essa herança em seu uso. Além disso, conceitualmente o trabalho do artista não só trata da história da arte, como presta reverência a ela, ao mesmo tempo em que a descontrói, reconstruindo-a em um universo fragmentado, imerso no contemporâneo, recomposto com ironia.


Esculturas, aquarelas e animações, entre outros trabalhos de Gustavo Rezende, habitam o Terreiro do Paço Imperial. As obras se embrenham no espaço, buscam habitá-lo em diálogo com a arquitetura dupla do prédio, entre a construção colonial e as adaptações expositivas que respondem aos preceitos modernos do Paço Imperial. É esse duplo também que se alimenta o trabalho do artista. Se em obras mais antigas ele se materializava formalmente, a exposição “Amor sagrado, amor profano” traz um recorte no qual o duplo não se apresenta necessariamente como duplicidade de formas. A questão aqui é a relação dupla no existir, de ser indivíduo e estar no mundo, na complexidade de ser diferente e único e, ao mesmo tempo, ser igual aos outros. De se relacionar com os dramas, as fábulas e os ícones de um universo pessoal e ter de encarar o cotidiano banal que nos cerca.


Suas esculturas, objetos ou até mesmo as aquarelas e vídeos se tocam em comum, o pensamento escultórico. Como disse Joseph Beuys, “pensar é esculpir”,[1] toda a forma de lidar com a matéria parte do pensar. É assim que Gustavo constrói seu mundo, no cruzamento de ideias que ganham corpo entre o real do cotidiano e o também real das incertezas, angústias e desejos de um mesmo indivíduo, dividido entre o mundo de fora e o mundo que carrega com ele. É a constatação do duplo existir, de insistir constantemente na dura batalha de reconhecer os outros em si e se reconhecer nos outros, de buscar partir e chegar todos os dias, mesmo não saindo do lugar, de encontrar o sagrado no profano.



Douglas de Freitas

Curador


[1] “Para mim, a formação do pensamento já é escultura. E, bem entendido, a linguagem é escultura. Eu mexo minha laringe, eu faço mexer minha boca, e o som é uma forma elementar de escultura” (ANTOINE, Jean-Philippe. "Eu não trabalho com símbolos." Joseph Beuys, a experiência e a construção da lembrança. In: Arte & Ensaios, 7(19), p. 176. Revista do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais – EBA /UFRJ, Rio de Janeiro).

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